Houve quem pensasse que fora apenas um fogacho, e quem considerasse que já tinham avisado, ainda se cantava o cântico do caminho caminhado, o jogo mal tinha começado, mas para quem estivesse mais distraído, daí a um pequeno bocado, lá o Nacional encontrou outro caminho, novo ataque de costa a costa foi traçado, de pé para pé em avanço continuado, e novo remate de Camacho, por Witi servido e apoiado, em posição central e muito bem colocado, depois de receber de costas para a baliza, rodar e iludir Mathieu e deixar Renan despassarado, o jogo estava então e afinal iniciado, e o marcador confirmou que a equipa visitante se tinha adiantado.
Os ilhéus vinham mesmo desalmados, davam uns trabalhos desgraçados, a equipa leonina esboroava-se por todos os lados, mas também eles se expunham e em contra-pé foram apanhados, com um passe a abrir para o príncipe dos endiabrados, que assistiu depois na área para Bas Dost fuzilar, foi porém assinalado o adiantamento do maliano, pretensamente, talvez estivesse muito ligeiramente, o que não ajudou a destrinçar foi o plano.
Quem não se fez rogado foi Palocevic, bola lançada do outro lado do mundo, mais um furo na esquerda resultando uma penetração junto à linha de fundo, um cruzamento e uma conclusão sem defesa, à boca da baliza desviou de cabeça, aproveitando os espaços dados por uma equipa pouco coesa, em alguns sectores ausente, descompensada ou presa, e a visitante mais focada e mais acesa.
Os adeptos já ansiavam por um murro na mesa, parecia má demais a sobremesa, depois da purga confeccionada e sua despesa, pairava o fantasma de mais uma tristeza, uma derrota inconveniente e sem delicadeza, que exporia problemas de outra natureza, divergências fundamentais relacionadas com grandeza, e os nervos contraíam-se e latejavam com frequência.
Por momentos, até Keizer deixou de ser uma certeza, o estado de graça da sua careca tornou-se uma ausência capilar que denotava vileza, e toda a gente entreviu um Novo Sporting que não era belo como uma princesa, e ao espelho era mais velho que uma velha chinesa. O Nacional ameaçava o terceiro, livre directo batido em jeito e Renan desta vez voou e impediu o efeito.
Quis alguém que não fosse assim, não sei quem, quem sabe o Veríssimo, outrora um árbitro complicadíssimo mas que se apresentou concentradíssimo, tão focado que descortinou um toque em Bas Dost, caído quando ia para o "já foste", e foi rever a grande penalidade, enquanto o holandês se preparava para a converter, como um pregador da IURD converte fiéis para sacar o dízimo, e assim foi o último golo da 1.ª parte, importantíssimo.
Porém ainda não estava acabada, a equipa do careca continuava atarantada, nem no ataque a coisa funcionava, os avançados vindos da Choupana rematavam quase à vontade, mas já sem a pontaria tão afinada, e numa bola por Renan projectada, com Bruno Fernandes a apanhar um ressalto e a defesa adversária desamparada, preferiu rematar cruzado quando tinha Bas Dost isolado por trás da molhada.
O intervalo serviu para largar lastro e deixar um pequeno barril que na 1.ª parte foi quase invisível, mas não permitiu a desenvoltura possível, com Miguel Luís a ligar uma equipa que partiu quase numa missão impossível, mas digo isso não pelo duplo do Tom Cruise, digo porque foi uma substituição que valeu o seu uso, permitindo corrigir um nevrálgico desequilíbrio.
A equipa não voltou muito solta, mas ainda assim mais segura foi tentando dar a volta, com Nani algo a meio a executar um remate de longe traiçoeiro, que saiu à figura e meio rasteiro. O Nacional dispôs de vários livres nas imediações do reduto leonino, bombeando bolas tentando sempre dar-lhes destino, e várias vezes na 2.ª parte isso foi um desatino. Quando finalmente Jefferson conseguiu infiltrar-se no ataque pela ala, levando a bola como gosta de levá-la e depois tentando cruzá-la, nunca se sabe se sai borrada ou cruzamento de gala, o homem tem um olho para o fosso e outro para a pala, lá conseguiu endereçá-la ao Holandês Voador, que sem deixá-la aterrar um remate de pé direito improvisou, causando apuros ao guarda-redes que se atirou.
Já com Jovane no lugar de Nani, bola aqui bola ali, o miúdo que traz golos fez um passe em profundidade para o ponta-de-lança, que adiantou e à saída do guarda-redes dividiu com confiança para Bruno Fernandes, empate alcançado e tudo como antes. Claro que aumentou a moral, o Miguel Luís e o Cabral mostraram-se dois bons navegantes, e os caminhos para a vitória já não pareciam tão difíceis e distantes.
O perigo começou a rondar cada vez mais os corações dos nacionais, e graças a um livre directo semelhante ao da 1.ª parte, na mesma baliza mas executado com outra arte, Mathieu ficou nos anais fazendo a sua parte. O ambiente no estádio tornou-se então inebriado, o fantasma dos natais passados tinha sido excomungado, o pesadelo encaminhava-se para um sonho deslumbrado, a apoteose da glória era um mundo alcançado. Mas ainda não estava acabado.
O jogo estava desconcertante e o equilíbrio desconcertado, na resposta o Nacional não se fez demorado, Riascos só não fez riscos no cromado porque Renan fez uma defesa de um iluminado, passando a luva pela bola como quem passa um pano por um nado, protegendo a vida do resultado recém-conquistado.
Fábio Veríssimo estava tão focadíssimo que até viu mais um penalti subreptício que surgiu depois de Miguel Luís aparecer no ataque e cruzar a bola com precisão para Dost, a entrar outra vez vindo de trás ao 2.º poste, ganhando a frente mas impedido de dar-lhe o último toque. Mais uma vez discutível, mas dando o benefício da dúvida possível, sabendo que seria sempre uma decisão difícil, tanto quanto foi o jogo imprevisível, e o mesmo de sempre enviou um míssil lá para dentro, defendido para o poste e entrando à tangente, não valendo e repetindo, novamente convertendo e rindo.
A remontada ficou selada com um golo de Bruno Fernandes, já depois de uma sua arrancada que só por intervenção de Daniel não causou danos, contra-ataque fulminante guiado por Diaby e continuado por Jovane, Miguel Luís do lado oposto aparecendo, numa recarga depois de uma jogada marcante, já no primeiro minuto dos descontos, que foram jogados até ao último instante.
Vitória importante num desafio electrizante, falhar hoje seria um trauma periclitante e poderia transformar o sportinguista, ainda mais, num bi-polar errante, não esquecer que não há só ursos no pólo norte, também os há em Alvalade, a jusante e a montante.
Sporting volta a entrar em falso na Liga NOS 18/19 em Alvalade:
Jornada 13 - ? 0-[1] Nacional
Jornada 12 - V 4-[1] Desp. Aves
Nos últimos 5 jogos que entrou a perder em casa, venceu apenas uma partida:
V Desp. Aves, D Arsenal, D Barcelona, D Braga, D Real Madrid
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A última vez que o Sporting esteve com uma desvantagem de 2 ou mais golos em casa, tinha sido na jornada 32 da época 2016/17, com uma derrota por 1-3 frente ao Belenenses (os dois golos a surgirem nos últimos 5 minutos do encontro)
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Em 196 ocasiões dos jogos em que chegou ao intervalo em desvantagem no Estádio José Alvalade, o Sporting perdeu 50%.
A última vez que fez uma reviravolta na 2.ª parte foi em Janeiro 2016 frente ao SC Braga [V 3-2]
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INTERVALO | Sporting 1 – 2 Nacional
Comandados de Costinha jogaram à “grande” na 1ª parte, surpreendendo Alvalade#LigaNOS #SCPCDN #DiaDeSporting
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FINAL | Sporting Nacional
oferecem reviravolta natalícia aos adeptos, num jogo em que chegaram a estar a perder por 2 golos
Ratings em goalpoint.pt#LigaNOS #SCPCDN #DiaDeSporting
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Há 68 anos que o Sporting não culminava duas reviravoltas consecutivas na Liga Portuguesa com goleada:
1950 Elvas [F 3-6], V. Guimarães [C 5-1]
2018 Desp. Aves [C 4-1], Nacional [C 5-2]
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Há 11 anos que o Sporting não vencia dois jogos consecutivos na Liga Portuguesa com reviravolta no marcador:
2007 Marítimo [F], Paços Ferreira [C]
2018 Desp. Aves [C], Nacional [C]
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