sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Crónicas de Rei-Nan - As Manoplas de Renan

Regressados das entranhas da pedreira, para a 2.ª parte, Mathieu ficou de fora do embate talvez com caganeira, entrando André Pinto, central de engate e menor craveira, motivo dos assobios da falange caseira, que não esqueceu a sua brincadeira, concentrado e sem sinais de tremideira.
Mas antes que desse tempo para tremer, Ricardo Esgaio executou um lançamento, bola lançada em profundidade no corredor direito, com Acuña a saltar para a interceptar mas por Dyego Sousa pelas costas e já no ar empurrado, com Manuel Oliveira a ver mas sem estar para apitar virado, dando seguimento ao lance combinando com Wilson Eduardo, que foi à linha antes de ter cruzado, aparecendo João Novais naquele território não declarado, a pequena área onde um mito vai ser criado, repentinamente e lançado, desviando o cruzamento com um cabeceamento colocado, ficando tudo a ver especado enquanto novo golo era já festejado.
Foi então que entrou em acção Luís Godinho, revendo o lance no conforto do seu cantinho, onde VARíssimo aguentou e viu a luz e ele viu o empurrãozinho, e decidiu e bem avisar o Manelinho, ele que vira na 1.ª parte tudo o que era toquezinho, que apitou falta contra o Sporting a cada mergulhinho, quando reviu no ecrã o lance, foi como se ficasse tudo clarinho, modificou a decisão anulando um golo clandestino, não foi falta, chorou o Abel, mas foi uma faltinha, meu menino. Raul Silva protestou e um cartão amarelo o árbitro lhe mostrou, e o jogo continuou empatado a um, no seu destino.
Todo este festival passou, cinco minutos ele durou, até ficar para trás, foi como Acuña que mediu mal um passe horizontal e teve de ir atrás, mas Coates, que comete alguns mas também corrige muitos disparates, barricou um dos possíveis remates que tentou o outro rapaz, gorando-se o perigo e sobrando a bola para Renan, num relação entre ele e a bola cada vez mais auspiciosa e sã, tal como acontece a quem gosta de seitã.
Ricardo Esgaio disputou uma bola com Acuña a saltar, levantou os pitons e cartão amarelo o árbitro lhe foi mostrar, tinha-os com ele e começava a os usar.
O jogo estava embrulhado, nenhum dos ataques conseguia ir a algum lado, as equipas tinham cuidado redobrado, era difícil construir um ataque planeado, tudo resultava de um sobressalto ou de um desequilíbrio aproveitado, quando subia uma equipa a outra aproveitava em contra-ataque o espaço dado, e assim foi Wilson Eduardo aproveitando a oportunidade, num dois para dois desde o meio-campo despovoado, cabendo a André Pinto, o mais odiado, fazer-lhe um desarme em deslize antecipado, em plena grande área quando já tinha o pé armado e um remate preparado, pensado que já tinha o central desnorteado - o substituto de Mathieu estava aplicado e inspirado!
De seguida Manuel Oliveira sacou de novo o cartão, falta de Gudelj por uma falta de ocasião, igual a tantas outras que não mereceram punição, na mesma zona e de cirurgião, mas já lá vamos, antes Renan ia controlando os danos, recolhia as bolas paradas despejadas pelos maganos, e quando de bola corrida se assomavam, como no lance em que Paulinho deixou para trás a marcação e se acercou da área, saíam remates que para a pedra voavam.
Houve porém um livre traiçoeiro, na sequência de uma falta do lado direito da defesa, quando Ristovski foi com demasiada fome à sua presa, que resultou numa parábola surpresa, direitinha para dentro da baliza mesmo por baixo da travessa, com o guardião brasileiro a recuar depressa e com a ponta dos dedos, nas suas manoplas de couraça, qual Coraçãozinho de Satã quando se passa, a tirar ao Abel-Braga o pão da mesa, desviando por cima da barra a remessa, saindo melhor que a encomenda, digno de uma divina oferenda. Aí sim, nasceu a lenda.
Na resposta, já um pouco sufocados como a autoridade pela Cosa Nostra, e fartos de jogar uma bosta, Nani cortou de cabeça um canto batido ao 1.º poste, Wendel dominou a bola e correu com ela de um lado ao outro pela esquerda, cruzando em esforço no limite e conquistando um canto que acabou por ser mal aproveitado.
A seguir saiu Luiz Phellype, o estreante titular, o sem-cabelo holandês entendeu que o seu compatriota devia entrar e colocou-o no seu lugar, esperando que a troca-por-troca, apesar do estilo distinto, pudesse resultar.
O jogo vivia de cantos e solavancos, bolas paradas e mancos, e quem tinha habilidade tentava a sua sorte em livres ou arrancadas, ou jogadas de ruptura em profundidade. João Novais rematou num livre directo e acertou no alvo, mas Renan voou e tal como Suleiman e seus otomanos, ele impôs aos paroquianos a sua vontade, defendendo para novo canto. Na sequência de um canto, Raul Silva ainda atravessado, libertou-se de Coates, subiu mais alto tal como fizera o uruguaio na 1.ª das partes, e executou um cabeceamento igualmente fulminante, que porém não foi suficiente para bater Renan, pois embateu estrondosamente na barra que ficou a tremer, tal como o guardião a deixa quando os penaltis vai defender.
Depois começou o Sporting a avançar, pretendendo proteger a defesa e do seu reduto a bola retirar, e quando se viu Bas Dost recuar para a vir buscar, no preciso momento em que se preparava para uma abertura realizar, veio Goiano por trás o pé dele interceptar, falta óbvia e anti-desportiva que o árbitro teve de apitar, sem ter a coragem de com o segundo amarelo e o vermelho o penalizar.
Num assomo pela esquerda do ataque, Acuña entrou na área, tirou um da frente e armou com o pé direito um remate bem tirado, que foi bater em Raul Silva, sendo bloqueado, e pouco depois, estafado, de campo foi retirado, entrando mais um jogador que jogou no Braga, sendo pelo Sporting emprestado, Jefferson o estrábico que não foi assobiado.
As faltas sucediam-se, mas nada de grave, pior foi quando Coates foi puxado por um alarve pela indumentária a cinco minutos do fim, na sequência de mais um livre batido para área, de fora para dentro gerando-se uma reacção contestatária, mais uma vez foi o vídeo-árbitro a chamar a atenção à alimária, que após rever desta vez não tomou decisão contrária, mandando seguir uma partida cada vez mais surreal e arbitrária.
Dizem agora os entendidos que foi agarrado pelas costas da camisola e caiu para a frente como cai um ganso patola e não cai gente, experimentem inclinar-se com alguém a puxar-vos para trás a ver se avançam, e a força que fazem enquanto se arrastam e não arrancam, e se vos largam de repente onde vão parar - e sobre este lance é tudo o que vou falar, nem vale a pena alimentar a ignorância, tal não é a ganância com que tentam branquear.
Antes que o jogo chegasse ao fim, ainda deu tempo para novo desarme no limite de André Pinto, dentro da área como o outro que fez, só que desta vez a bola sobrou para um outro opositor, que tentou um remate prometedor mas acabou por ser o último estertor. Nos cinco minutos de descontos de tempo, ainda Wendel foi à linha tirar novo cruzamento, que Marafona interceptou, e também Jefferson pela esquerda entrou, cruzando rasteiro para a área onde o Holandês Voador se assomou, e até causou pavor, mas a bola desviou num ou no outro opositor que arrastou, saindo para novo canto do outro lado, com a baliza à mercê e o resultado, mantendo-se a zero como finalizador.
Findo o tempo regulamentar, ficou a decisão para os penaltis a marcar, conseguindo Rei-Nan, sozinho, os três primeiros desviar, fazendo-se a eles ou só de olhar, e ao iniciar da nova série, depois de Jefferson marcar, ser ele próprio, espero que sem pacto com Satan ou Lúcifer, se encarregar de finalmente os travar. Fez-se a festa com Renan a celebrar, grávido com a bola que levou para casa, debaixo da camisola, ávido para mais tarde recordar.
Abel e Salvador, o guerreiro e o arcebispo, aziaram tanto que tiveram que espumar. Posteriormente, o Secretário de Estado também considerou que tinha o dever de repudiar. É assim, enquanto o Estado se confundir com o clubismo de quem mandar, mas nisso já o Presidente da República tinha sido exemplar, tal como o 1.º Ministro e o Presidente da Assembleia Popular, escolhem sempre muito bem em que tribuna e ao lado de quem se sentar, parece que o anti-Sportinguismo primário institucionalizado, sujo e criminoso de tão entranhado, tem que se cultivar - e é por essa tacanhice e pequenez que nunca nos vão derrubar.


REI-NAN e as manoplas sagradas






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