segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O anulamento da vontade I

Eram três e meia da tarde em Alvalade, melhor, já passavam dez minutos à vontade, é normal quando é o Sporting o prejudicado, e o Porto joga à mesma hora mesmo que noutro lado, quando toda a promenade iniciática cessou, e o jogo, finalmente, o tal de clássico que era mágico, para lá do cerimonial cómico-trágico, iniciou, tratado como produto complementar secundário, preenchidos dias e horários de comentário, prévio e antecipatório, como também relatório sincrónico e póstumo, definitivo ou provisório.
E vão-me dizer: parou! Que isto dos duelos ao entardecer raramente foram jogados sem antes umas jogadas se fazer, que o futebol lusitano é jogado mais fora do que dentro do relvado, se um ou outro jogador não estiver já aliciado, há-de o árbitro vir inquinado, o destino revelar-se enguiçado ou o próprio escritor do guião estar apalavrado ou desinspirado, ou simplesmente, acabrunhado, conformado, e nunca esquecer qual é o nosso triste fado.
Pois bem, só sei que nos dez minutos posteriores ao árbitro ter dito aos senhores para iniciarem os seus suores, e o sol até estava lá para lhes amenizar os horrores, assim como ratos com asas voadores, e claro, o Hugo Miguel e os extintores, que algo pegou fogo e foram os papéis às cores no topo sul dos torcedores, só se viu gente a queixar-se de agressores e dores, e jogo de encaixe no centro e nos corredores, ou seja, só quando o Herrera fez uma falta digna de torturadores, pisando por trás o pé de apoio de Bruno Fernandes, nas partes interiores, à entrada da área dos meigos agressores, que batiam e logo faziam festinha aos sofredores leões, é que se viu algo parecido com futebol, vinte e um minutos depois, lá Mathieu rematou à baliza, mas desviou para canto na barreira dos morcões.
Foi um jogo de muitas contemplações, o ritmo era lento, arriscava-se pouco, ninguém queria complicações, a merda da transmissão estava perfeita e de repente deu-lhe uma luz e foi-se, e comecei a ver o jogo aos repelões, à medida que tentava encontrar a melhor das soluções, e cada uma era pior que as anteriores opções.
Podia ser um daqueles galifões, e por aqui acabava-se o comentário a um jogo daqueles que se esquecem de imediato para não ficar traumatizado com más recordações, e evitar reviver um desafio que foi de fracas emoções, de ambíguas e desmotivantes sensações, rever a cara de empadões daqueles cínicos figurões, e ouvir depois tantas tangas mescladas com opiniões, tantas críticas e tantas bajulações, umas para os Keizeres outras aos Conceições, e se calhar é mesmo isso que vou fazer por hoje.
Faz de conta que não vi o resto, e amanhã escrevo a parte II.


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